sexta-feira, 16 de maio de 2025

Respiro.

 É só respirar. Só isso.

Sentir o respirar. 

Sentir respirar. 

Sentir. 

Respirar. 

No agora. 

Hoje e em todos os hoje e agora.

Aqui

Agora

Aqui é aqui. Agora é agora. 

Respirar. 

Só isso. 

Sempre. No agora.

espiral da nave.

 A sinfonia da espiral de quem fui, há tantos anos, de quem sou, aos bocadinhos, de quem não deixei ir, que ficou, para uma segunda vida. A torção do tempo e do espaço, que se revela em insónias, em viagens no tempo, em papéis fora de série, em questões que serão eternamente por responder. Escolhas, decisões pouco faladas, assumidas, aceites no turbilhão de questionar o valor de cada um. E onde cada um encaixa. Que viagem no espectro do impossível, da outra vida, do que já não existe. Mas existe em cada célula, em cada conquista, em cada trauma por superar. Em cada milímetro de quem sou hoje. O que me deu para entrar nesta nave, para me cansar, para descobrir palavras e emoções de outrora? Quem fui que já não sou. Mas que não deixo de ser e de deixar ir. Veio o sono, perdeu-se o presente, viraram-se costas. E amanhã é um novo dia. É sempre um novo dia. Em que se arrumam todos esses ses e se segue com as certezas do agora. Certas e convictas.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Islas perdidas

Érase un mar de frío, viento e historias mojadas
Éranse unas islas de un país de entrada
Érase un continente de sueños y esperanzas
Éranse fronteras repletas de alambradas

Era un sol de invierno que nada calentaba
Un suelo arado de huellas embarradas
Era un día que con otro se enterraba
Barcos atestados de almas empapadas

Eran huesos que ya más no calaban
Envueltos en chalecos que del agua no salvaban
Eran mantas térmicas doradas y plateadas
Decorando a niños con vidas arrasadas

Era todo llanto, dolor, indignación e impotencia,
Era la muerte en vida (de occidente), sin vuelta atrás,
Sin Historia, Memoria, ni Humanidad.

-Miguel Ángel Morales-

Daqui.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Pause.

Estou em freeze. 
O tempo, eu, está tudo em pausa. Não avança, não recua, não existe. Está tudo calmo, demais, à espera que o futuro se vá pronunciando no que há dentro. Até as horas são mais, o silêncio. A espera. 

sábado, 3 de outubro de 2015

Lesbos

Chamava-se Oscar. Todos os dias, acordava cedo, já estressado, para ir trabalhar nas suas coisas de engenharia. Comia mal com tanta responsabilidade, mas ao fim do dia, quando chegava a tempo de ir buscar o filho mais velho à paragem de autocarro, sentia-se feliz e realizado. Ganhava bem, tinha uma família bonita, o esforço valia a pena.

Um dia, o governo e a gente de poder decidiram zangar-se uns com os outros. Não como as zangas de crianças, do “não falo mais contigo”. Zangas de gente com dinheiro, com ganância, que não se contenta em chegar a casa e jantar a ouvir as histórias da mulher, as primeiras palavras da filha pequena, a ler um livro nos 10 minutos de sossego que tem antes de ir dormir.

As zangas desta gente que quer mais a todo o custo, leva esse custo a outras vidas. À do Oscar, por exemplo. Que nunca se meteu com ninguém, que cresceu na vida e criou um lar próspero e feliz com as próprias mãos, sem passar por cima de ninguém. As zangas por quererem um pedaço de terra, um mundo mais de submissão, levou a que a vida do Oscar se fosse desmoronando. Pouco a pouco, de início. Com choque, espanto. Mas depois com medo, pânico, corpos onde não deviam estar.

O Oscar gostava muito da sua vida. Do seu trabalho, da sua televisão panorâmica, de ir andar de bicicleta com a família ao fim de semana, dos encontros com os amigos de longa data. Mas tinha medo. Medo de perder tudo isso por uma zanga que não era a sua. O número de corpos na estrada aumentava, ele não queria deixar-se perder. Pensou muito, desesperou muito.

Até que cedeu. O seu país já não era seu. As ruas onde andava de bicicleta estavam negras de sangue, ódio e medo. Não queria que a sua família crescesse assim, não queria temer pela suas vidas, não queria que lhe acontecesse o mesmo que ao seu vizinho com a casa incendiada.

Pensou muito, não foi de ânimo leve que se vestiram os quatro com uma mochila, cada um com o que lhes valia mais, à vida ou ao coração. Os quilómetros foram muitos, a fome, o medo, o viver escondido. Com o seu telefone podia ir descansando o resto da família que já estava noutras terras, podia ganhar coragem para também ele meter a sua família num barco do inferno.

Negociou. Esperou que o seu dia de sorte azarenta chegasse, que o chamassem. A meio da noite, meteu a sua família num barco super-lotado, num barco que se afundava ainda em terra. Entrou, com pânico por ele e pelos seus. Temeu tanto. O motor não dava conta de tanto peso de corpos, a escuridão não lhes indicava o caminho. Foi um Deus qualquer que o fez.

Chegaram a terra de outros. Com ajuda de corajosos que se atiraram à água por eles, por salvarem mais um colete com vida. Pisaram a terra escorregadia, os olhos dos seus filhos já tinham visto demais para poderem reagir. Não sabia o que os esperava para além daquela praia. Mas ao menos aí, na praia, receberam um sorriso, um abraço e uma manta quente. Ao menos, nessa praia, receberam um pouco de esperança.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

noite.

Toques de massagem e a tensão esvai-se, logo ao encaixar o crânio no sitio certo. A partir daí é um imprevisível que se vai soltando, esquecendo o aperto, deixando-o ir, num relaxe total merecido. Companhia, pele hidratada e vozes de quem se quer muito. Luz da Noite, casa na rua e um banco partilhado com estranhos só porque há música com vontade contra as escadas da igreja. Se o Verão não tem uma bonita energia mágica, não sei o que terá. Eu fico-me com isto, é alimento para a alma, é vida, é viver.