segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Ilha

É perfeito. Tudo é perfeito. O seu ar, o seu cheiro, a sua cor. A sua essência, as sensações que me faz sentir. A luz, o seu calor natural. Todos os anos anseio, todos os anos não me desiludo. À medida que o tempo se aproxima, começa o turbilhão, a expectativa, a vontade. Quando se avista ao longe, as narinas revolvem o estômago, os olhos piscam para focar e só não corro porque o mar não deixa.

O cocktail molotov de emoções não tarda, sei bem. Mais cedo ou mais tarde, chega, baralha, é tudo uma confusão, umas lágrimas de emoção pura, de enchimento interno, de querer mais, de querer ficar e engolir toda esta mística tão diferente durante um dia infinito.

E nesta ilha há um farol.
E é, muitas vezes, o melhor lugar do mundo.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Aniversário

Deixou-se sentir mesmo no final do dia, do dia que já não é dia porque as horas dizem que já é outro, mas que ainda o é, porque o dia para si ainda não tinha chegado ao fim. Só aí deixou cair as armaduras, quando proferiu em voz alta que dia era. E aí o subconsciente reagiu de forma incompreensível, porque a vida, e o fim dela, são do mais inexplicável do seu ser. O corpo revelou-se, transformou-se da forma que a mente mandou sem saber. Exprimiu-se por si só, sem forças sociais nem pressões individuais. Simplesmente foi. E aí soube, aí soube que os sentimentos que nutriu, que nutre se manterão, embora escondidos dentro de si e do dia-a-dia. Porque podemos estar em mundos diferentes, em patamares de evolução diversos, em realidades distintas, mas estamos sempre juntos.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

A torre

Há teorias. Há teorias que poderiam ser provadas facilmente. É que há anos foi feita uma construção meio duvidosa. De um momento para o outro, aquela torre enorme apareceu. Cinzenta, invasora, com uma luz vermelha lá em cima, tão lá em cima. É que a torre é mesmo alta! E não condiz nada com o ambiente em que foi posta.

Há teorias que dizem que é a torre do mal. Que antes tudo era pacífico, apaixonante e cheio de emoções, mas pacífico, sem dramas. E que desde o ano em que a torre apareceu, tudo se alterou. Há meias palavras, apertos no peito e mil vontades tão incontroláveis.

Diz-se que a torre mexe com a líbido, que nos baralha a todos, que chegamos aqui normais, mas nunca mais reagimos de forma normal, vemos desejos onde durante o ano nem saudações existiam. Mexe com a líbido, as pessoas ganham importâncias desmesuradas, irracionais.

E há consequências.
Mas a culpa só pode ser da torre, porque isto antes não era assim.

Um igual, todos diferentes

Só há um igual. Quando se é igual, é-se igual a alguma coisa, da mesma forma, do mesmo modo. É-se uma cópia, bem ou mal feita, é igual, e só pode ser de uma forma.

Quando se é diferente, é-se diferente de mil maneiras. Há mil diferentes, todos diferentes uns dos outros e diferentes da original. Ser, fazer diferente dá-nos liberdade infinita. Ser igual constrange-nos à base, ao modelo. Ou se é igual daquela forma, ou se é automaticamente diferente.