quinta-feira, 29 de março de 2012

Sobre os sonhos

"Com pressa se cumpre cada hoje, e de pressa em pressa se acaba, tantas vezes, em depressão. Numa queda que também não o é, porque uma vida desprezada pelo próprio arrasta-se, mesmo quando não há consciência disso." JLNM, De pressa em pressa

Às vezes os sonhos sufocam. 
Mas aquele sufocar de verdade, físico, que tira o ar.
Às vezes deixa mesmo de existir ar algum.

quarta-feira, 7 de março de 2012

O amor e as palavras

Nas palavras e no amor e no amor das palavras e nas palavras do amor, não é a construção cuidada que vence. Não é a palavra certa e o acento no lugar, não é a frase reescrita cem vezes para soar melhor. Não. É a espontaneidade, é a explosão! É o que sai de dentro, que parece banal, mas é tudo. É a lamechice q.b., é aliás ir além da lamechice e entrar em níveis em que o banal se ultrapassa a si mesmo, em que as palavras mais simples e normais, e os verbos e as comparações são do menos rebuscado possível. São do mais cru, no entanto tão cheio de paixão. É a envolvência, o calor, a pujança e o sentimento todo ali. Todo ali, em cada sílaba, em cada som que sai, em cada sentimento, a cada micronésimo de segundo. É a intensidade do coração que bate, sem palavras bonitas, só as óbvias, porque o amor é óbvio, sem construção. É a simplicidade efusiva em todas as entranhas que saem, em todos os gritos, as lágrimas e as faltas de ar de tanto amar, de não chegar, de nunca chegar. O que vence é o que não faz sentido, são as palavras soltas, são as metáforas fracas. Porque o que vale é o que está para além disso, porque o que transparece é uma calamidade, é a verdade verdadeira, é a essência simples e crua, com todas as sílabas das palavras, com toda a utopia realista do amor. São os pormenores banais, o dia-a-dia no mais simples e terra-à-terra possível, a simplicidade, a essência da vida nos pequenos gestos, a força que guerreia dentro do peito só por respirar, por ouvir respirar e partilhar aquele e todos e qualquer um dos momentos. Do início ao fim, passando por cada um dos fragmentos sem excepção nem saltando à frente, com intensidade, sem escapar nada, nem um suspiro, nem uma réstia de ar em vão. Açabarcar tudo. E não aguentar senão gritar ao mundo o mundo ao contrário que está, do avesso, gritar e querer gritar as palavras mais envoltas, mais complexas e cheias de significado, mas sairem as mais corriqueiras e pobres, mas recheadas de um sentido sem explicação.

Por isso é que o MEC é o génio per se da transformação em palavras do amor. Por isso é que mesmo o Alvim escreve bem sobre o amor. Porque são simples, directos, crus, e tão cheios, tão eloquentes, tão quentes, sensíveis e verdadeiros. Porque o amor é a verdade, fria, numa envolvência quente que transpira dos poros, não se explica, mas é aquilo, é tão aquilo, simples, sem palavras caras, só aquilo que sopra e transborda, só e tanto.