segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Mundo de Amor

"
- Este mundo não é um mundo de Amor.
- Pois não! Não é um mundo de Amor. Por isso é que temos que nos apaixonar, para fazer o nosso próprio mundo.
"

ncam

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Canção Grata

Por tudo o que me deste:
- Inquietação, cuidado,
(Um pouco de ternura? É certo, mas tão pouco!)
Noites de insónia, pelas ruas, como um louco...
- Obrigado! Obrigado!

Por aquela tão doce e tão breve ilusão.
(Embora nunca mais, depois que a vi desfeita,
Eu volte a ser quem fui), sem ironia: aceita
A minha gratidão!

Que bem me faz, agora, o mal que me fizeste!
- Mais forte, mais sereno, e livre, e descuidado...
Sem ironia, amor: - Obrigado, obrigado
Por tudo o que me deste!

Carlos Queiroz, 1907

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

As ruas da cidade

Sabes que aquelas ruas são tuas? Todos os dias. Que estás ali em cada passo, mesmo que já ali não passes sequer. Tomaste conta dos caminhos que foram de outros, de memórias de gentes diferentes. É tudo teu, agora. Há demasiado tempo. Açabarcaste e abafaste o resto.

Dei-te aquelas ruas, na minha memória. Sempre que ali passo, sei que são tuas, que o território é alheio, já não é meu. Atravesso-as decidida. O que me incomoda é que gosto de cada passeio, de cada canto, de cada lugar que não chegou a ser por falta de tempo. Gosto de cada folha caída perdida no chão e do semáforo avariado. Não consigo não gostar, não passear por ali, não relembrar.

Até quando?

Sabes que a vejo muitas vezes? Aquele nariz e os lábios que não se abrem. Vejo-a no metro, nas passadeiras, nas escadas rolantes. E estremeço. Porque ela não sabe sorrir. E tu, por isso, também não o fazes. Para encontrarem alguma sintonia que seja no meio desse nada.

Hoje devorei as tuas ruas. Só as ao longe, claro. Mas esqueci-me de me lembrar de ti, enquanto me lembrava.

Tomaste conta desta cidade.
Porque isso é que tenho de me ir embora.

Deixo-te as chaves.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Alameda

Só tenho duas coisas na cabeça. Noite e dia. Acordo e penso nas duas ao mesmo tempo, em nada em especial, mas nelas, que me invadem. Durmo com elas, durmo mal por elas, pouco, entusiasmada, expectante. Ansiosa. Que chegue, finalmente!, o momento.

Aquele esperar consciente, mas racional, que faz com que os passos não mudem, mas que na Alameda me fizeram olhar à volta - discretamente, claro! - várias vezes. Na expectativa. Foi de um e de outro. Mas é que existia tanto a possibilidade de me cruzar ali. Foi noutros sítios, afinal. Mas a Alameda tem sempre o seu potencial de causa...

As duas coisas vão adormecer comigo hoje. Já aqui estão, não me largam o coração e o ser, um segundo quase que seja. É a presença.

Amanhã agarro uma. Com garras.
A outra logo se vê.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Amén

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia, e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado sempre à margem de nós mesmos."

Fernando Pessoa

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Lobo


Às vezes meto-me na boca do lobo.
E o pior é que é conscientemente.
Tento recuar, mas a adrenalina é mais forte.
O pior é quando ele fecha a boca e me morde.

Mas é só às vezes... Outras vezes porto-me bem.

domingo, 22 de julho de 2012

Muda o mudar

Há os dias que soam a mudança, a uma nova fase que aí vem. Nada muda em concreto, mas cheira a novo e, afinal de contas, encontram-se sinais a cada esquina.

O livro que se acaba, o acesso maldito exterminado que me retira da vida obscura, o coração que se desliga das distâncias e se arruma numa paz e em verdade, o trabalho valorizado ao mais alto nível que se assume como definitivo, o fim-de-semana de praia e sol que aquece a pele, e a viagem da minha vida a umas semanas de distância que me enche de anseio e vontade incessante. 

E a cada vez maior vontade de apagar blogs, facebooks e afins. Já esteve tão mais longe...

A vida muda. As fases passam. Corro com elas.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Timing

And it starts all over again...



when the sun goes to bed
that's the time you raise your head

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Soon enough

How soon is soon?

Gosto de pessoas que sabem usar bem o ponto-e-vírgula.

Aventura dos Livros

Nos finais de Março, inícios de Abril dei por mim na mais intensa e viciante maratona de livros. Foram 4 livros, em menos de 20 dias, 913 páginas que jorravam à minha frente enlaces tão diferentes.

O Hemingway falou-me da loucura do amor, da maravilhosa aventura de fugir da vida e coabitar apenas numa ilha, com praia, relax total, muito bronze, uma calmaria interna. O paraíso, o aclamado Éden. Calmaria que não dura muito tempo e traz um gosto de loucura e a extrema necessidade de procurar o choque, a diferença, qualquer coisa que abane a perfeição. Porque somos seres de emoções, é necessário agitar o cosmos para se sentir a intensidade. Que começou a surgir com cortes de cabelo estranhos, passou de relações a dois para três, aos pares, aos trios. À loucura do abandono, da questão sufocante se é justo ou sequer possível amar duas pessoas ao mesmo tempo e viverem todos juntos, até acabarem todos separados tragicamente. Porque a ilha não é já a paz e a calmaria de antigamente, mas um poço de turbilhões a evitar.

O Jardim do Éden, Ernest Hemingway

Como estava no modo de descobrir as formas da paixão se demonstrar, tropecei, apenas num dia, na história da Mary Panton que julgava que já tinha dado o que tinha a dar pelo amor. Tinha sido espezinhada, mas com gosto, com dedicação, até ao fim. Julgou então que era já suficiente e que se iria conformar com uma companhia. Insípida, velha, mas companhia fiel. No meio de todas as suas certezas e de um crime cometido na base da loucura, Mary depara-se com uma possibilidade de vida viva, de viver ainda, indo contra tudo o que sempre julgara infame.

Paixão em Florença, William Somerset Maughan



Foi neste deserto que me perdi. Que me assolou a mais sincera e pujante vontade de entrar num jipe num minuto, de percorrer desertos, de me percorrer a mim. Miguel Sousa Tavares fala pouco da travessia em si, mas mais da preparação, do envolvimento. E da sua companhia Cláudia. Partilhei eu a admiração por um e pelo outro. Desejei eu ser o terceiro elemento daquele jipe, ou sê-lo a ele ou a ela. Para viver com eles, por eles, entre eles, aquela ligação, as diferenças, os picanços e o amor que houve – embora ele não o diga – durante aquela meia dúzia de dias. Conheci a Cláudia, conhecia-a de cor, já. E já admirava o cheiro do charuto e do whisky, que sabiam a casa. Juntos pela casmurrice, pelo lugar de cada um, pelos lugares-pouco-comuns e pela fotografia, depressa se cruzaram e se fizeram um, como se separaram para o mundo real. Regressando do seu deserto, a idade, os hábitos, as gravatas afastaram-nos. Para um sempre. Que me fez quase chorar sentada no metro. Quando me apercebi que a travessia tinha acabado e que eu, também eu, me teria de afastar deles.

No Teu Deserto, Miguel Sousa Tavares

Foi o primeiro volume do 1Q84 que me fez reacreditar, em viagem em Janeiro, que ainda existiam livros que me prendiam o ar, as horas e todos os segundos em que os pudesse devorar. O primeiro voou. Este segundo livro não ficou atrás. Li os capítulos intercalados da Aomame e do Tengo com sofreguidão, queria saber sempre mais da vida de um do outro. Quando é que finalmente se cruzariam, em que mundo, antes ou depois de se desvendar tudo. Envolvi-me nos desesperos, nos desencontros, na infelicidade sensaborona dos dois. No nonsense da Fuka-Eri e na pequena raiva da existência do Povo Pequeno, que pressupõe que a história não é real. Estruturei teorias da conspiração em como o próprio Hurakami se auto-retrata. Cheguei até a ver a Aomame na rua um dia, juro que era ela, com o seu saco do ginásio. Só não tinha era os olhos em bico, porque também nunca a julguei assim.

1Q84 - Volume II, Hurakami


Depois do início de Abril até agora a meados de Maio, o ritmo abrandou, mas ainda assim foi bem aproveitado.


Toda a gente falava e não se calava sobre os Jogos da Fome. Eu fui uma delas, claro, porque a sinopse parecia-me que tinha potencial. Estive para começar a ler os livros antes de me atirar à facilidade do cinema, mas por circunstâncias diversas acabei por ver o filme antes de ler o livro. Gostei, mas não adorei. Aliás, no final, até já estava farta. Mas algo me fascinou no conceito, me atraiu na brutalidade, na luta da sobrevivência e na força das aparências e do jogo. Por isso, li o primeiro volume. É em pouco diferente do filme, muito pouco. Tem talvez apenas três ou quatro episódios diferentes. Tive pena de ter visto o filme antes, porque condicionou a minha imaginação. Sempre que imaginava a Katniss era a do filme, e o mesmo com a miúda pretinha e o aborrecido companheiro do Distrito 12. Mas li o volume I, para poder ler agora o II e o III, sem saber já a história e para me dar a hipótese de me surpreender.

Os Jogos da Fome, Suzanne Collins

Pus os romances (e os quases) um pouco de lado, e decidi aprender sobre a Felicidade nos diferentes países do mundo. Ainda não aprendi tudo o que o Eric Weiner tem para me mostrar, vou a meio da sua viagem. Mas já aprendi a ironia da Felicidade holandesa, a simplicidade do Butão, a seriedade e confiança da Suiça, o frio feliz da Islândia e de outros países por aí. O livro tem mais potencial do que aquele que nos transmite, é menos interessante do que julgava. Talvez seja porque o Eric me irrita um pouco, com tanto sentido de obrigação de quebrar com os preconceitos. Mas no fundo, aprendo mais sobre o que cada povo valoriza na sua felicidade, o que a determina, o porquê e de que formas é que ela anda por aí.

Geografia da Felicidade, Eric Weiner

domingo, 15 de abril de 2012

Morre Lentamente

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, 
quem não ouve música, 
quem destrói o seu amor-próprio, 
quem não se deixa ajudar. 

Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajecto, 
quem não muda as marcas no supermercado, 
não arrisca vestir uma cor nova, 
não conversa com quem não conhece. 

Morre lentamente quem evita uma paixão, 
quem prefere o "preto no branco" 
e os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis, 
justamente as que resgatam brilho nos olhos, 
sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos. 

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, 
quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, 
quem não se permite, 
uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos. 

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, 
desistindo de um projecto antes de iniciá-lo, 
não perguntando sobre um assunto que desconhece 
e não respondendo quando lhe indagam o que sabe. 

Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior
do que o simples acto de respirar. 
Estejamos vivos, então! 

"Morre Lentamente" by Pablo Neruda

quinta-feira, 29 de março de 2012

Sobre os sonhos

"Com pressa se cumpre cada hoje, e de pressa em pressa se acaba, tantas vezes, em depressão. Numa queda que também não o é, porque uma vida desprezada pelo próprio arrasta-se, mesmo quando não há consciência disso." JLNM, De pressa em pressa

Às vezes os sonhos sufocam. 
Mas aquele sufocar de verdade, físico, que tira o ar.
Às vezes deixa mesmo de existir ar algum.

quarta-feira, 7 de março de 2012

O amor e as palavras

Nas palavras e no amor e no amor das palavras e nas palavras do amor, não é a construção cuidada que vence. Não é a palavra certa e o acento no lugar, não é a frase reescrita cem vezes para soar melhor. Não. É a espontaneidade, é a explosão! É o que sai de dentro, que parece banal, mas é tudo. É a lamechice q.b., é aliás ir além da lamechice e entrar em níveis em que o banal se ultrapassa a si mesmo, em que as palavras mais simples e normais, e os verbos e as comparações são do menos rebuscado possível. São do mais cru, no entanto tão cheio de paixão. É a envolvência, o calor, a pujança e o sentimento todo ali. Todo ali, em cada sílaba, em cada som que sai, em cada sentimento, a cada micronésimo de segundo. É a intensidade do coração que bate, sem palavras bonitas, só as óbvias, porque o amor é óbvio, sem construção. É a simplicidade efusiva em todas as entranhas que saem, em todos os gritos, as lágrimas e as faltas de ar de tanto amar, de não chegar, de nunca chegar. O que vence é o que não faz sentido, são as palavras soltas, são as metáforas fracas. Porque o que vale é o que está para além disso, porque o que transparece é uma calamidade, é a verdade verdadeira, é a essência simples e crua, com todas as sílabas das palavras, com toda a utopia realista do amor. São os pormenores banais, o dia-a-dia no mais simples e terra-à-terra possível, a simplicidade, a essência da vida nos pequenos gestos, a força que guerreia dentro do peito só por respirar, por ouvir respirar e partilhar aquele e todos e qualquer um dos momentos. Do início ao fim, passando por cada um dos fragmentos sem excepção nem saltando à frente, com intensidade, sem escapar nada, nem um suspiro, nem uma réstia de ar em vão. Açabarcar tudo. E não aguentar senão gritar ao mundo o mundo ao contrário que está, do avesso, gritar e querer gritar as palavras mais envoltas, mais complexas e cheias de significado, mas sairem as mais corriqueiras e pobres, mas recheadas de um sentido sem explicação.

Por isso é que o MEC é o génio per se da transformação em palavras do amor. Por isso é que mesmo o Alvim escreve bem sobre o amor. Porque são simples, directos, crus, e tão cheios, tão eloquentes, tão quentes, sensíveis e verdadeiros. Porque o amor é a verdade, fria, numa envolvência quente que transpira dos poros, não se explica, mas é aquilo, é tão aquilo, simples, sem palavras caras, só aquilo que sopra e transborda, só e tanto.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Querido ginásio,

Fomos hoje no nosso primeiro date. Foi intenso, tanto desejei que acabasse logo ali, como gostei de resistir até ao fim e sentir-me realizada quando te virei as costas. Ainda estamos muito no início, andávamos a adiar este nosso reencontro há demasiado tempo, então custa sempre um pouco relembrarmo-nos do bem que sempre nos demos.

Amanhã vou rogar-te todas as pragas do mundo, por me estar a lembrar de ti em cada segundo em que me tentar mexer e sentir dor. Mas sabes como é que eu sou... No início desdenho sempre, mas no fundo, acredito em nós.

É questão de tempo e dedicação. E coragem. Não nos vamos permitir desistir nem desmoralizar. Afinal de contas, isto ainda agora começou e nem oficial é - porque teimam em não me dar o cartão que torna tudo isto mais real.

Vamos concentrar-nos nesta bela relação. Prometer que nos vemos várias vezes durante a semana, quantas mais melhor! Que investimos um no outro, com determinação. Afinal de contas, nada existe para que corramos mal.

Amanhã vou ao cinema com uns amigos e não posso ir ter contigo. Mas no dia seguinte, vou. Está prometido!

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

THE END.

" Tem de haver um fim, necessariamente. O que acontece é que não aparece escrito: "Este é o fim." Também não encontras ao chegar ao último degrau da escada nada a dizer "Este é o último degrau. Não subas mais a partir daqui", pois não? Usando os sentidos e abrindo bem os olhos, o final descobre-se por si só. Mesmo que não saibas que o fim está mesmo à tua frente. "

Haruki Murakami, 1Q84

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Quoting.

" as pessoas acham que podem dizer tudo porque o tempo apaga. o tempo não apaga, o tempo adora lembrar que ainda não passou muito tempo desde a última vez. "

Fuck it.

(from MC)

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Querido Karma,

Há muito tempo que não falamos. Desde então, já mudou tudo. Passaram-se uns anos, pregaste-me umas partidas pelo caminho, mas também me deste muitas coisas boas. Entretanto, entre gives and takes, diria que estamos quites, não achas?

Então que tal recomeçarmos do zero e passarmos a ser bons amigos?
Eu gostava.

Pensa nisso.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Starbucks

O Starbucks sabe a casa em qualquer canto do mundo. É sempre igual, acolhedor e dá espaço para termos o nosso próprio espaço, ainda que andemos sem poiso para as malas. Dá para passarmos tempo connosco próprios, sem nos sentirmos deslocados de casa. Faz com que nos identifiquemos, que saibamos onde estamos e o que esperar. Talvez por isso não me importe de pagar tanto por um muffin e um café.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

2012.

- 2012 pode também começar por ser o ano de decidir as viagens mais improvisadas e espontâneas. Máximo de viagens no mínimo espaço de tempo. E para ontem !

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

2012.

2012 é ainda uma incógnita. Resoluções concretas há poucas. Mas podemos começar com:

- 2012 é o ano do ou sim ou sopas. 

Sopas.