quinta-feira, 17 de maio de 2012

Soon enough

How soon is soon?

Gosto de pessoas que sabem usar bem o ponto-e-vírgula.

Aventura dos Livros

Nos finais de Março, inícios de Abril dei por mim na mais intensa e viciante maratona de livros. Foram 4 livros, em menos de 20 dias, 913 páginas que jorravam à minha frente enlaces tão diferentes.

O Hemingway falou-me da loucura do amor, da maravilhosa aventura de fugir da vida e coabitar apenas numa ilha, com praia, relax total, muito bronze, uma calmaria interna. O paraíso, o aclamado Éden. Calmaria que não dura muito tempo e traz um gosto de loucura e a extrema necessidade de procurar o choque, a diferença, qualquer coisa que abane a perfeição. Porque somos seres de emoções, é necessário agitar o cosmos para se sentir a intensidade. Que começou a surgir com cortes de cabelo estranhos, passou de relações a dois para três, aos pares, aos trios. À loucura do abandono, da questão sufocante se é justo ou sequer possível amar duas pessoas ao mesmo tempo e viverem todos juntos, até acabarem todos separados tragicamente. Porque a ilha não é já a paz e a calmaria de antigamente, mas um poço de turbilhões a evitar.

O Jardim do Éden, Ernest Hemingway

Como estava no modo de descobrir as formas da paixão se demonstrar, tropecei, apenas num dia, na história da Mary Panton que julgava que já tinha dado o que tinha a dar pelo amor. Tinha sido espezinhada, mas com gosto, com dedicação, até ao fim. Julgou então que era já suficiente e que se iria conformar com uma companhia. Insípida, velha, mas companhia fiel. No meio de todas as suas certezas e de um crime cometido na base da loucura, Mary depara-se com uma possibilidade de vida viva, de viver ainda, indo contra tudo o que sempre julgara infame.

Paixão em Florença, William Somerset Maughan



Foi neste deserto que me perdi. Que me assolou a mais sincera e pujante vontade de entrar num jipe num minuto, de percorrer desertos, de me percorrer a mim. Miguel Sousa Tavares fala pouco da travessia em si, mas mais da preparação, do envolvimento. E da sua companhia Cláudia. Partilhei eu a admiração por um e pelo outro. Desejei eu ser o terceiro elemento daquele jipe, ou sê-lo a ele ou a ela. Para viver com eles, por eles, entre eles, aquela ligação, as diferenças, os picanços e o amor que houve – embora ele não o diga – durante aquela meia dúzia de dias. Conheci a Cláudia, conhecia-a de cor, já. E já admirava o cheiro do charuto e do whisky, que sabiam a casa. Juntos pela casmurrice, pelo lugar de cada um, pelos lugares-pouco-comuns e pela fotografia, depressa se cruzaram e se fizeram um, como se separaram para o mundo real. Regressando do seu deserto, a idade, os hábitos, as gravatas afastaram-nos. Para um sempre. Que me fez quase chorar sentada no metro. Quando me apercebi que a travessia tinha acabado e que eu, também eu, me teria de afastar deles.

No Teu Deserto, Miguel Sousa Tavares

Foi o primeiro volume do 1Q84 que me fez reacreditar, em viagem em Janeiro, que ainda existiam livros que me prendiam o ar, as horas e todos os segundos em que os pudesse devorar. O primeiro voou. Este segundo livro não ficou atrás. Li os capítulos intercalados da Aomame e do Tengo com sofreguidão, queria saber sempre mais da vida de um do outro. Quando é que finalmente se cruzariam, em que mundo, antes ou depois de se desvendar tudo. Envolvi-me nos desesperos, nos desencontros, na infelicidade sensaborona dos dois. No nonsense da Fuka-Eri e na pequena raiva da existência do Povo Pequeno, que pressupõe que a história não é real. Estruturei teorias da conspiração em como o próprio Hurakami se auto-retrata. Cheguei até a ver a Aomame na rua um dia, juro que era ela, com o seu saco do ginásio. Só não tinha era os olhos em bico, porque também nunca a julguei assim.

1Q84 - Volume II, Hurakami


Depois do início de Abril até agora a meados de Maio, o ritmo abrandou, mas ainda assim foi bem aproveitado.


Toda a gente falava e não se calava sobre os Jogos da Fome. Eu fui uma delas, claro, porque a sinopse parecia-me que tinha potencial. Estive para começar a ler os livros antes de me atirar à facilidade do cinema, mas por circunstâncias diversas acabei por ver o filme antes de ler o livro. Gostei, mas não adorei. Aliás, no final, até já estava farta. Mas algo me fascinou no conceito, me atraiu na brutalidade, na luta da sobrevivência e na força das aparências e do jogo. Por isso, li o primeiro volume. É em pouco diferente do filme, muito pouco. Tem talvez apenas três ou quatro episódios diferentes. Tive pena de ter visto o filme antes, porque condicionou a minha imaginação. Sempre que imaginava a Katniss era a do filme, e o mesmo com a miúda pretinha e o aborrecido companheiro do Distrito 12. Mas li o volume I, para poder ler agora o II e o III, sem saber já a história e para me dar a hipótese de me surpreender.

Os Jogos da Fome, Suzanne Collins

Pus os romances (e os quases) um pouco de lado, e decidi aprender sobre a Felicidade nos diferentes países do mundo. Ainda não aprendi tudo o que o Eric Weiner tem para me mostrar, vou a meio da sua viagem. Mas já aprendi a ironia da Felicidade holandesa, a simplicidade do Butão, a seriedade e confiança da Suiça, o frio feliz da Islândia e de outros países por aí. O livro tem mais potencial do que aquele que nos transmite, é menos interessante do que julgava. Talvez seja porque o Eric me irrita um pouco, com tanto sentido de obrigação de quebrar com os preconceitos. Mas no fundo, aprendo mais sobre o que cada povo valoriza na sua felicidade, o que a determina, o porquê e de que formas é que ela anda por aí.

Geografia da Felicidade, Eric Weiner