sábado, 10 de julho de 2010

O último relvado da tarde

Era daqueles dias de Verão, de brisa pesada, do sol que queima as costas enquanto atravessamos a estrada. Era daqueles dias em que nem faz mal passarmos por um jacto de rega da relva, que sabe bem, refresca, damos uma corridinha e mandamos um leve gargalhada absurda. Daqueles dias em que os gelados sabem melhor, ou as caipirinhas, ou as imperiais. Em que não se ouve música específica nenhuma, em que tudo é energia, em que a rua sabe a casa. E o dia vai passando, os olhos vibram de brilho, parecemos mais leves com um bronze de jeito. O sol decide começar a descer, dar descanso à nossa pele que hoje não deu oportunidade ao sal do mar, deixar-nos tirar os óculos de sol e ver aquele jardim como é. E a esse jardim todos vêm, mais cedo ou mais tarde. Nesse jardim todos se encontram, um dia ou outro. Há dias em que vêm todos, outros em que só aparecem meia dúzia. Mas é nesse jardim, nesse relvado que se vê o sol a pôr-se. É nesse relvado que o dia acaba, que se descansa a cabeça e se sorri pelos feitos do dia de férias. Que se troca uma piada para o lado, um risinho, uma mão dada discretamente para ninguém ver. Uns 2 centímetros mais perto que não se notam, mas fazem o coração galopar. O sol desce desce, desaparece, e fica aquele silêncio em sorriso. Ali, no último relvado da tarde.

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