segunda-feira, 13 de setembro de 2010

E depois?

E depois?
Depois ela berrou, esperneou, partiu a mesa. E ele agarrou-a, acalmou-a e fê-la chorar.
E depois as entranhas sucumbiram e saíram e juntaram-se ao carvão dos passeios, tão pesadas como os comboios que te pisam mesmo só na pontinha, ali na pontinha dos pés. E ela ficou sem ar. E foi a respiração boca a boca, os lábios dele a aproximarem-se, carnudos, húmidos para não a assustarem, cada vez mais próximos e ela que esperneava porque queria respirar com ele longe dali, que ele tira-lhe o ar, e ele aproximava-se, e ela afastava-o, e sacudia os braços, os olhos, os pêlos alourados dos braços, e os olhos dela fecharam-se, aliás, ela fechou-os como que para não ver e ele respirou. E ela engasgou-se. E respirou também. E ficou tudo azul, as pálpebras, as pontas dos dedos, roxo, parecia que ia rebentar, que o coração ia explodir, mas devagarinho, devagarinho... devagarinho adormeceu e não se sabe por quanto tempo, porque nunca mais acorda, a preguiçosa, não quer lutar pela vida e ele continua ali, já sem folgo para lhe dar ar, mas ali à espera que ela deixe de ser parva e se levante porque já são horas e já se está a fazer tarde e o táxi não espera.

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