quinta-feira, 5 de junho de 2014

Alma para troca

É o tempo que se mede de formas diferentes. Que parece que corre, sem restar tempo para dar valor, para parar e sentar. Para falar até não haver mais voz na alma. Os telemóveis interrompem a partilha a cada 3 minutos e as conversas passam mais pelo que se viu no Youtube e na vida alheia do Facebook do que sobre o que nos assombra e motiva. Assim é mais fácil sermos sociais. Assim é mais fácil termos uma voz. Que não fala de nós, mas dos outros e do nada. Agora não há ideias, isso é para os loucos. Agora não há tempo para compor, para escrever, para criar. Porque o pouco que há se gasta em estar a par e a passar a gostar do que dizem ser moda. Agora é raro quando nos dizem que algo se passa, quando abrem o coração. Quando não fingem que são pessoas perfeitas com a vida ideal. Porque é só essa farsa que é fácil de partilhar. Não há parte fraca. E então surge toda a nostalgia. Dos outros tempos em que se passavam horas num café sem planos, só a falar. A vida era ali, vivida olhos nos olhos, nos planos que surgiam depois de mais um guardanapo dobrado aos bocadinhos. Surge a saudade de quando se podia dizer que o coração doía e não nos julgavam fracos, mas davam-nos um abraço. Quando as pessoas se tocavam, física e emocionalmente. Anda tudo com pressa. E ninguém dá a alma para troca.

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