segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Outrora

E quando visto a camisola que foi para o armário exactamente depois de me abraçares, há 15 anos atrás, e ainda cheira àqueles tempos? Não a ti mas a mim e me envolvem umas reminiscências de quando os abraços surgiam a toda a hora. Agora somos já velhos, enrugados, as mãos trémulas fingem-se suficientes e os braços ficam sem efeito. É pena acharmos que somos velhos demais para amar com o corpo, é pena acharmos que o silêncio desvenda o que vai dentro do nosso peito. É que sabe bem ouvir as mesmas coisas, é que às vezes esquece-se. Às vezes gostaria de voltar a rodopiar de mãos dadas contigo, ficar tonta tonta e não me importar de cair, ficar com uns arranhões, porque tu me levantavas logo a seguir e davas-me um sorriso e um beijo na testa. Nessa altura os corpos existiam e as palavras também. Havia tudo. As cartas eram longas, cheias de sentimentos e forças da natureza, as pernas entrelaçavam-se no banco do jardim e as conversas terminavam só depois de estarmos a dormir e a sonhar um com o outro, de mãos dadas para sempre. Aí sim, tudo era eterno. Agora a relatividade e a crença que para a próxima é que é têm ganho espaço e poder nas nossas vidas. Estamos sempre à espera do que vem a seguir, não nos contentamos, o presente é só uma passagem em vez de ser o momento. Andamos mesmo confusos com a vida.

2 comentários:

  1. Minha Marti, hoje acordei e senti precisamente a mesma coisa. Os meus abraços terás sempre, que eu espero nunca me levar demasiado a sério para achar que já não há tempo para os silêncios e as cumplicidades.

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