Vi, completamente fora de tempo, o L'Auberge Espagnole, que retrata o Erasmus de um rapaz francês em Barcelona, rodeado de outras imensas nacionalidades. E gostei muito. Retrata extremamente bem o que é o Erasmus, através de pormenores que transmitem sensações acertadas e reais, e não o típico cliché cheio de excessos, festas, sexo, álcool, em que não existe tempo para desenvolvimento pessoal nem para estudos. Pelo contrário, é calmo, tranquilo, smooth, onde há um pouco de todos esses elementos, mas de forma real, ponderada, adaptada aos seres humanos que todos somos.
Fala do caos inicial em que nos dispomos às situações mais awkward de sempre na tentativa de nos sentirmos em casa o mais depressa possível. Dispomo-nos a falar com pessoas extremamente estranhas, a ir a locais em sítios duvidosos, só porque a única pessoa com quem trocámos umas palavras diz que vale a pena, dormimos em casa de gente conhecida há meia hora, por aceitarmos que são os nossos melhores amigos do momento.
Depois surge a ligeireza e a descontracção com que o tempo passa. As descobertas, as pessoas que se tornam importantes, os sacos do supermercado, o limpar a casa-de-banho ou as cervejas a mais. Tudo se vai desenrolando de forma polida, serena, com altos e baixos, mas sempre em altas, o dia-a-dia preenche, aquela vida torna-se vida completa, assim, tranquilamente.
Depois lá chega o momento em que se tem de voltar para casa, para o nosso país, onde tudo é estático, parado no tempo e parece não fazer qualquer sentido.
Gostei de o ver fora do tempo, na verdade. Não antes de Erasmus, não durante, não logo depois. Não antes porque cria expectativas, porque não iria entender metade das sensações que passam para fora do ecrã, porque iria criticar a falta de intensidade. Que existe e está lá, mas demonstrada de uma forma mais realista. Não durante, porque comparações seriam feitas e não há nada comparável em Erasmus com os Erasmus dos outros, com os outros enquanto pessoas ao nosso lado, vivemos e experienciamos tudo de forma completamente diferente e não há meio de igualizar. E, por fim, não logo após o meu Erasmus, porque me traria saudades não saudáveis, porque me faria repisar o facto de voltar não fazer sentido e não seria bom de forma alguma.
Vê-lo agora foi um bom timing. Já lá vão uns dois anos e passado esse tempo todo tive a sorte de ter tido agora mais um dia cheio do ar do meu Erasmus, da minha Bologna, com as minhas portas abertas a pessoas que me enchem do melhor que sou, do carinho, da verdade, pessoas que apareceram nesse meu tal Erasmus e que permanecerão na minha vida. Porque Erasmus não é só festa, não é só provisório. Erasmus pode ser vida, criação e amigos para sempre.
ainda não vi e olha que já pensei nisso umas 20 vezes!
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